"Vou andando como sou e vou sendo como posso..."

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Era uma vez...



Quando a gente desvenda o valor de uma palavra, a poesia faz tudo mudar de cor, de tom.

Na véspera do meu aniversario de 34 anos, fui presenteada por um passeio pelas ruas da bienal do livro em Salvador em busca de presenciar o bate-papo entre Elisa Lucinda e Rubem Alves. Naquele instante tomei uma decisão: precisava criar um blog. Precisava externar de alguma forma a felicidade do encontro daquele dia.

Ouço falar de Rubem Alves desde a minha infância. Engraçado que ele, Leonardo Boff, Frei Beto, Carlos Mesters e outros pareciam pertencer à mesma casta! Por motivos diferentes o nome deles saia da boca do meu pai diversas vezes e eu os tinha como seus amigos de longas datas! O encanto é que depois de tanto tempo ouvindo falar nele, comprei um livro seu somente este ano, no dia que li a introdução de vários outros... Na bienal, me deparei com um menino de idade perdida, com brilho nos olhos e uma cabeça tão transparente, que da pra ver a variedade de historias que fervilha ali.



Elisa Lucinda... Bem, Elisa é um caso à parte! A primeira vez que a ouvir falar uma de suas poesias, foi na mesa de um restaurante de um hotel em São Paulo, em 21 de dezembro de 1994. Márcia Martinn, uma grande amiga, me puxou pelo braço e disse: "você tem de conhecer essa mulher!" e me levou até ela. E não estava errada! Depois de muitas risadas à mesa, regadas a vinho, não imaginava que o melhor ainda estava por vir. Quando ela nos brindou com a poesia do Semelhante. Eu não sabia de onde vinha tamanha naturalidade em forma de poesia, de olho, voz, alegria, simplicidade e profundidade. Eu conseguia me ver através dela. Eu sempre acreditei que a poesia era assim, uma forma especial de unir as palavras com ritmo, melodia e paixão. O fato é que ganhei dela um exemplar do livro O Semelhante e a partir dai me tornei sua devota. Fui a inúmeras apresentações e comprei muitos dos seus livros (só não tenho os infantis, ainda!) e onde posso, leio suas poesias e atraio mais devotos para ela (Santa Elisa? rsrsrs).

No tal encontro da Bienal, fiquei mais uma vez tomada pela emoção. Me apaixonei pelo Rubem e pela poesia do encontro dos dois. Comprei um caderninho rosa e comecei a escrever, andando... Teve uma hora que quase não contive a explosão de ouvir que o Cântico Negro, do José Régio, é uma poesia especial para os dois. Isso era demais! Aprendi esse texto aos 11 anos (será coincidência Elisa?) e o ouvia diariamente inúmeras vezes por causa de uma fita K-7 do show Nossos Momentos de Maria Bethânia que não saia do meu "2 em 1". Sabia ele de trás pra frente e cada vez que lia, ouvia ou dizia, uma frase diferente se tornava a mais forte...

A arte tem o poder de nos alcançar em coisas diferentes. Não é apenas a beleza dela em si, mas quem sou eu naquele instante e o que ela me leva a ser e sentir no momento do seu encontro comigo. A repetição tem seus encantos... O ensaio, a temporada, os gestos, a verdade, ler, reler, tri-ler... Ver um filme novamente depois de tempos, ler um livro novamente depois de tempos...

Salve Elisa Lucinda e Rubem Alves! Fernando Pessoa e Vinicius de Moraes! Tom Jobim e Chico Buarque! E tantos outros construtores de poesia!