Acontece comigo um fenômeno com obras de arte que deve acontecer com outras pessoas. Simplesmente o efeito fica em mim, se transfere para o meu dia-a-dia, se mistura com quem eu era até ali e me modifica. Sempre foi assim... Me lembro das transformações adolescentes depois de ler todos os livros de Richard Bach, os que consegui ler de Roberto Freire (no tempo em que eu acreditava no amor libertário - mas sobre isso, um dia, quem sabe, escrevo um post), depois de uma crônica de Artur da Távola sobre "ser" e "estar" (essa mexeu!), de assistir Sociedade dos Poetas Mortos, Ray Charles, O declínio do império americano e Invasões Bárbaras, Frieda Cahlo, Callas Forever, Piaf (adoro biografias) e tantos discos, musicas, peças (Cuida bem de mim, A alma boa de Setsuan), livros...
Mas voltando ao livro, em uma de suas passagens, quando Elisa relata a historia de uma professora do interior de Pernambuco que recitou Adélia Prado para um auditório de 800 pessoas, lembrou-me a experiência que tive, quando participei do Projeto Salvador (uma parceria da Faculdade de Educação da UFBA e a Prefeitura Municipal) como professora da Oficina Voz e Dicção. As alunas eram professoras da rede e estavam em busca de sua formação universitária. Depois da aula, sempre uma delas vinha conversar e compartilhar sensações que não podiam expor ao grupo.
Aquelas mulheres carregavam uma carga muito pesada sobre os ombros (péssimas condições de trabalho, jornadas exaustivas tanto no trabalho como em casa, muitas travas, tabus, medos e apesar da consciência de que por serem profissionais da voz, precisavam de cuidados específicos diários, não faziam nada neste sentido). Percebi que pra chegar à voz, precisaria acordar outros sentidos. Audição, tato, visão. Poesia, corpo, foco, o outro, musica. A essência da profissão. O motivo e a importância de ser educadora. Sei o quanto isso mexeu com todas elas. Mexia comigo também!