Acabei de sair do Teatro Vila Velha. Sim, eu fui ver e ouvir um velho ator perdido em suas inquietações... Fui, mas o fiz sem maiores pretensões. Eu estava curada da picada do bichinho do teatro. Mas saí de lá com uma inquietação profunda na alma, dessas que o teatro proporciona e não cicatriza.
Vi minhas memórias ali no palco, Harildo, não eram só as suas. Meu teste para ingressar na Faculdade de Teatro (Eu sou Clarissa, tenho 21 anos e quero ser atriz). Lembro da expressão sua, a de Hebe e a de Bião, quando terminei o monólogo de Água Viva, de Clarice Lispector. Aguardei a repetição ou alguma indicação e... nada! Após a pausa de todos e num ato sem palavras, mas carregado de gestos e expressões, você me abriu a porta e saí da sala, com uma grande interrogação. Mas com a certeza de que era bom!
Hoje eu continuo sendo Clarissa, agora com 34 anos e com a certeza de que não quero ser atriz. Sustento o texto de que não quero saber de teatro, mas saio aos prantos de uma declaração de amor a esta forma de viver, como a que vocês me proporcionaram hoje. Porque amo o teatro e o fazer teatral. Fazer teatro não é simplesmente uma profissão, é simplesmente fazer teatro e toda imensidão que isso carrega. Não fui cumprimentá-los, eu sei, me perdoem, um a um, por isso. Mas não foi covardia, tive que me esconder, eu e minhas lágrimas. Talvez para não ser piegas, nem me entregar aos prantos no ombro do primeiro que cruzasse o meu caminho.
Pensei que sairía ilesa dessa noite, ou melhor, nem pensei em nada, porque fui mais por insistência de Lelê, pelos tantos telefonemas (e não é fácil num processo de produção ficar adulando gente pra ver sua peça, tem muitas outras “coisinhas” para fazer...)
A minha caminhada no teatro sempre foi de lateralidade. Nunca frontal. Fiz teatro por causa da música, porque a música não me completava na relação com o palco, a luz, o texto, o conceito. Mas a mim, não interessavam os teóricos, apenas suas marcas. Não fui fazer teatro por causa de Stan, Nelson, Beckett ou Shakespeare – apesar de ter sido flechada pelos poemas de Brecht. Queria entender como pisar no palco, como isso se dava. Mas embrulhei o meu pacote de devaneios sem foco, misturei com outras caminhadas, me utilizei do teatro para atender necessidades familiares, religiosas e artísticas. Cruzei o teatro e a música, o teatro e o discurso, o teatro e a poesia, o teatro e a voz, o teatro e a expressão corporal, o teatro e a sala de aula, o teatro e a estética, mas quando cruzei o teatro e a produção me assustei. Vi a arte pelo avesso. Me entristeci, me atolei, me enojei, repugnei-a. Digo NÃO a todos que me pedem pra fazer teatro. Não quero e não quero mesmo! Mas me ajoelho diante da revolução que essa arte proporciona.
Me pego no texto da personagem de Neyde “estou só” e pergunto: quem não está assim, minha querida? Viver é um eterno estar-se só, mesmo em multidões...
O perdão é um momento que me prende e a partida sem rancor, também!
Chega de tanto desabafo! Viva a arte! Quero as janelas abrir para que o sol possa vir iluminar nosso amor!
Vi minhas memórias ali no palco, Harildo, não eram só as suas. Meu teste para ingressar na Faculdade de Teatro (Eu sou Clarissa, tenho 21 anos e quero ser atriz). Lembro da expressão sua, a de Hebe e a de Bião, quando terminei o monólogo de Água Viva, de Clarice Lispector. Aguardei a repetição ou alguma indicação e... nada! Após a pausa de todos e num ato sem palavras, mas carregado de gestos e expressões, você me abriu a porta e saí da sala, com uma grande interrogação. Mas com a certeza de que era bom!
Hoje eu continuo sendo Clarissa, agora com 34 anos e com a certeza de que não quero ser atriz. Sustento o texto de que não quero saber de teatro, mas saio aos prantos de uma declaração de amor a esta forma de viver, como a que vocês me proporcionaram hoje. Porque amo o teatro e o fazer teatral. Fazer teatro não é simplesmente uma profissão, é simplesmente fazer teatro e toda imensidão que isso carrega. Não fui cumprimentá-los, eu sei, me perdoem, um a um, por isso. Mas não foi covardia, tive que me esconder, eu e minhas lágrimas. Talvez para não ser piegas, nem me entregar aos prantos no ombro do primeiro que cruzasse o meu caminho.
Pensei que sairía ilesa dessa noite, ou melhor, nem pensei em nada, porque fui mais por insistência de Lelê, pelos tantos telefonemas (e não é fácil num processo de produção ficar adulando gente pra ver sua peça, tem muitas outras “coisinhas” para fazer...)
A minha caminhada no teatro sempre foi de lateralidade. Nunca frontal. Fiz teatro por causa da música, porque a música não me completava na relação com o palco, a luz, o texto, o conceito. Mas a mim, não interessavam os teóricos, apenas suas marcas. Não fui fazer teatro por causa de Stan, Nelson, Beckett ou Shakespeare – apesar de ter sido flechada pelos poemas de Brecht. Queria entender como pisar no palco, como isso se dava. Mas embrulhei o meu pacote de devaneios sem foco, misturei com outras caminhadas, me utilizei do teatro para atender necessidades familiares, religiosas e artísticas. Cruzei o teatro e a música, o teatro e o discurso, o teatro e a poesia, o teatro e a voz, o teatro e a expressão corporal, o teatro e a sala de aula, o teatro e a estética, mas quando cruzei o teatro e a produção me assustei. Vi a arte pelo avesso. Me entristeci, me atolei, me enojei, repugnei-a. Digo NÃO a todos que me pedem pra fazer teatro. Não quero e não quero mesmo! Mas me ajoelho diante da revolução que essa arte proporciona.
Me pego no texto da personagem de Neyde “estou só” e pergunto: quem não está assim, minha querida? Viver é um eterno estar-se só, mesmo em multidões...
O perdão é um momento que me prende e a partida sem rancor, também!
Chega de tanto desabafo! Viva a arte! Quero as janelas abrir para que o sol possa vir iluminar nosso amor!