"Vou andando como sou e vou sendo como posso..."

sábado, 12 de dezembro de 2009

A última sessão de teatro

Acabei de sair do Teatro Vila Velha. Sim, eu fui ver e ouvir um velho ator perdido em suas inquietações... Fui, mas o fiz sem maiores pretensões. Eu estava curada da picada do bichinho do teatro. Mas saí de lá com uma inquietação profunda na alma, dessas que o teatro proporciona e não cicatriza.

Vi minhas memórias ali no palco, Harildo, não eram só as suas. Meu teste para ingressar na Faculdade de Teatro (Eu sou Clarissa, tenho 21 anos e quero ser atriz). Lembro da expressão sua, a de Hebe e a de Bião, quando terminei o monólogo de Água Viva, de Clarice Lispector. Aguardei a repetição ou alguma indicação e... nada! Após a pausa de todos e num ato sem palavras, mas carregado de gestos e expressões, você me abriu a porta e saí da sala, com uma grande interrogação. Mas com a certeza de que era bom!

Hoje eu continuo sendo Clarissa, agora com 34 anos e com a certeza de que não quero ser atriz. Sustento o texto de que não quero saber de teatro, mas saio aos prantos de uma declaração de amor a esta forma de viver, como a que vocês me proporcionaram hoje. Porque amo o teatro e o fazer teatral. Fazer teatro não é simplesmente uma profissão, é simplesmente fazer teatro e toda imensidão que isso carrega. Não fui cumprimentá-los, eu sei, me perdoem, um a um, por isso. Mas não foi covardia, tive que me esconder, eu e minhas lágrimas. Talvez para não ser piegas, nem me entregar aos prantos no ombro do primeiro que cruzasse o meu caminho.

Pensei que sairía ilesa dessa noite, ou melhor, nem pensei em nada, porque fui mais por insistência de Lelê, pelos tantos telefonemas (e não é fácil num processo de produção ficar adulando gente pra ver sua peça, tem muitas outras “coisinhas” para fazer...)

A minha caminhada no teatro sempre foi de lateralidade. Nunca frontal. Fiz teatro por causa da música, porque a música não me completava na relação com o palco, a luz, o texto, o conceito. Mas a mim, não interessavam os teóricos, apenas suas marcas. Não fui fazer teatro por causa de Stan, Nelson, Beckett ou Shakespeare – apesar de ter sido flechada pelos poemas de Brecht. Queria entender como pisar no palco, como isso se dava. Mas embrulhei o meu pacote de devaneios sem foco, misturei com outras caminhadas, me utilizei do teatro para atender necessidades familiares, religiosas e artísticas. Cruzei o teatro e a música, o teatro e o discurso, o teatro e a poesia, o teatro e a voz, o teatro e a expressão corporal, o teatro e a sala de aula, o teatro e a estética, mas quando cruzei o teatro e a produção me assustei. Vi a arte pelo avesso. Me entristeci, me atolei, me enojei, repugnei-a. Digo NÃO a todos que me pedem pra fazer teatro. Não quero e não quero mesmo! Mas me ajoelho diante da revolução que essa arte proporciona.

Me pego no texto da personagem de Neyde “estou só” e pergunto: quem não está assim, minha querida? Viver é um eterno estar-se só, mesmo em multidões...

O perdão é um momento que me prende e a partida sem rancor, também!

Chega de tanto desabafo! Viva a arte! Quero as janelas abrir para que o sol possa vir iluminar nosso amor!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Há Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada - Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)





Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Gestão de negocios

MBA

Gestão de Negocios

Contabilidade

Liderança

Sensibilização de Equipes

Tecnologia da Informação

Empresas

................

Da pra ter um gerenciador de vida pessoal???

Ah.... E que não dê ordens quando vc não as quiser receber!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Gosto do Pessoa nas pessoas

Confesso que não sei como se deu meu encontro de amor com a poesia... Procuro no meu passado esse dia especial. Aquele instante de uma troca de olhares que marca a historia iminente. Mas não consigo precisar esse momento. Tenho lembranças de influências especiais. Lembro da Professora Elsa no primeiro ano colegial, dos Professores Fernando Eleodoro e Pimpão, na época do cursinho. Todos declamavam poesia com a verdade das suas palavras mais do que as sonoridades de suas rimas. Somo a isso à convivência com meu poeta Jorge Portugal e toda a minha devoção pelas letras das canções. Convivi também com Antônio Pastori e ouvia as suas belas poesias plenas de suor e entrega. Mais ainda assim, em todos esses momentos eu já delirava ouvindo a palavra.

Vou mais longe e penso se começou com minhas audições ininterruptas de Maria Bethânia e Milton Nascimento por volta dos dez anos. Mais longe, penso nas mesóclises bíblicas e nos textos de Davi e de Salomão com poesias de amores tão profundos que ouvia espaçadamente na minha infância. O fato é que aos cinco anos perdi Vinicius de Moraes e chorei. (Chorei pela sua morte, sem nem sequer saber ler... E levo essa viuvez no meu currículo).
O fato é que esse encontro com a palavra deve ter acontecido antes mesmo de me dar conta que virei gente outra vez. Só que demorei um pouco para passar da condição de ouvinte delirante, para consumidora e leitora publica. Leitora publica? Sei la como dizer que não leio poesia apenas para mim, mas leio para pequenos grupos, em ocasiões especiais. E isso é muito louco, porque não são leituras necessariamente de poesias que estão na manga ou na cartola.

Sou uma leitora de fato de Elisa Lucinda, Fernando Pessoa (alias, onde andara minhas Obras Completas?) e Vinicius de Moraes. E sei que tenho um encontro com Drumond e com Bandeira. O encontro com Bandeira e Ezra Pound será num momento especial. Sinto que com Bandeira vou dizer “Meu Deus, por que demorei tanto pra me entregar a esse cara?”.

Sabado foi aniversario de meu pai e dediquei a ele a leitura de O Guardador de Rebanhos (V). Gosto do Pessoa nas pessoas. Há metafísica bastante em não pensar em nada e se encantar com Pessoa.